Neurociência: Não controlamos o nosso cérebro. Não como imaginamos.

Neurociência: Não controlamos o nosso cérebro. Não como imaginamos.

Você sabia que, segundo estudos modernos de neurocientistas, o seu cérebro,  processa 11  megabytes de informação por segundo? Isso significa 11 milhões de bits sendo processados nesta fração de tempo. Nada mal, não é? 

Na verdade, isso nem é o fato mais curioso.  O que nem todo mundo sabe é que de todo esse volume de informações  os neurocientistas estimam que a gente só tem  consciência de cerca de 10% deles, e essa é uma projeção bem otimista. Pode ser que estejamos perdendo mais que isso no dia a dia agitado que todos enfrentamos, com mais e mais  informações pelas quais somos bombardeados.

Mas, como estamos atentos e percebemos apenas parte  de nossas funções cerebrais, então o que acontece com o restante das informações que recebemos do mundo à nossa volta, junto com aquelas que são acontecem em nosso próprio cérebro, simultaneamente? 

Isso já foi um mistério, quando não tínhamos as informações que a Psicologia e a Neurociência, trabalhando juntas, nos trazem hoje através de sofisticados estudos do cérebro, principalmente através de Ressonância Magnética, entre outros recursos da ciência. 

Vamos entender que, se não estamos 100% no controle de nossa mente, então acontecem fenômenos aos quais também estamos sujeitos, sem os conhecer. Concorda?  

Neurociência: o que precisamos saber primeiro, para entender isso? 

É importante notar que todos nós temos vieses inconscientes – esse fenômeno ocorre com todos nós, seres humanos. Além disso, é também preciso compreender que nosso cérebro trabalha em uma velocidade gigante, e nem tudo vêm à nossa mente é consciente.  Parte do que se passa dentro dele fica em algum lugar, no qual nem sempre estamos prestando atenção, ou não está acessível no que chamamos nível consciente ou cognitivo (o nível da nossa percepção e da nossa compreensão). 

Aqui entra, portanto, o conceito de VIÉS INCONSCIENTE. 

Vieses inconscientes são atalhos mentais que nosso cérebro usa – uma espécie de piloto automático que ele faz uso para tomar decisões, para julgar situações e até mesmo para avaliar as pessoas ao  seu redor. E adiante você verá por que ele faz isso.

Essa é, portanto,  uma expressão que explica que muitos  desses atalhos podem estar fazendo com que nós criemos estereótipos e preconceitos (julgamentos às vezes apressados, mas ainda inconscientes) em relação às  outras pessoas, mesmo que a gente não perceba. 

Por que criamos e estamos submetidos a esses vieses inconscientes? 

Há estudos que mostram que nosso cérebro criou este tipo de comportamento  para poupar energia. Ao criar atalhos, nosso cérebro rapidamente faz escolhas e interpretações, visando trabalhar menos. Essa é a forma que nosso cérebro funciona desde a época em que os humanos viviam nas Savanas. 

E como não estamos 100% conscientes delas, temos a impressão de que fazemos escolhas conscientes. O que nem sempre é verdade. É como se fôssemos enganados pelos nossos próprios cérebros. 

Há muitos estudos sobre o fato de algumas partes de nosso cérebro ser utilizado em um raciocínio rápido, outras partes utilizadas para o lento. Outros estudos mostram ainda que frações de segundo antes de tomarmos uma decisão que nos parece consciente, nosso cérebro já a tomou, sem que tivéssemos percebido. Portanto, o que chega ao consciente é o resultado dessa ação interna. E parece então, que a decisão foi pensada e consciente, por nós. Mas nem sempre são. Aliás, na maioria das vezes, não são. 

Caso este assunto te interesse, há uma bibliografia ao final do artigo, para quem desejar conhecer melhor seu próprio cérebro e esses processos. 

Viés inconsciente é, portanto, um termo usado para descrever a tendência que todos nós temos de formar julgamentos rápidos e automáticos sobre outras pessoas com base em suas características físicas ou sociais e também de tomarmos diversas decisões, em variadas situações. 

Esses julgamentos são formados sem que estejamos cientes de que eles estão ocorrendo e podem afetar a forma como nos comportamos com outras pessoas, mesmo que não tenhamos a intenção de fazer isso.

O viés inconsciente relacionado ao que é diferente de nós (diverso)  pode se manifestar de várias maneiras. Por exemplo: em relação ao fato de julgarmos rapidamente as pessoas, podemos estar baseando nosso julgamento com base nas diferenças de idade, gênero, etnia, aparência física ou orientação sexual. Sabe o velho ditado que diz que o que vale é a primeira impressão? É disso que estamos falando. 

Esses julgamentos podem influenciar nossas decisões no trabalho, na escola, em entrevistas de emprego e em muitas outras situações da vida cotidiana. 

Mas afinal, isso é bom ou ruim?  E como posso evitar, pelo menos em parte, estar totalmente subordinado a estes vieses? 

Uma das principais preocupações com o viés inconsciente é que ele pode nos levar à discriminação e injustiça. Por exemplo, se um empregador tem um viés inconsciente contra pessoas de uma determinada etnia, pode acabar contratando menos pessoas dessa etnia, mesmo que elas sejam altamente qualificadas para o trabalho. Da mesma forma, um professor com um viés inconsciente contra os estudantes mais velhos pode acabar dando notas mais baixas a esses estudantes, mesmo que eles tenham um desempenho igual ou superior aos seus colegas mais jovens. São alguns exemplos, mas não pretendemos esgotá-los aqui. A ideia é conquistar sua atenção para o fato de que não é tudo que temos controle, em se tratando de nossa mente e cérebro. 

Uma maneira de minimizar o viés inconsciente é tornar-se mais consciente dele. Isso pode envolver a realização de exercícios de treinamento que visam aumentar a conscientização e a compreensão do viés inconsciente. Por exemplo, um exercício pode envolver algum esforço nosso, em nos permitirmos a conhecer e até conviver com pessoas diferentes de nós,  e adquirir, pouco a pouco, a  prática de identificar e questionar nossos próprios pensamentos e julgamentos quando isso ocorrer.

Esta maneira de minimizar o viés inconsciente pode envolver a promoção da diversidade e a inclusão em nossas vidas pessoais e profissionais. Por exemplo, através da inclusão e contratação de pessoas de diferentes das nossas origens étnicas e culturais, bem como a busca de amizades e/ou relacionamentos com pessoas que percebemos serem diferentes de nós. Ao expandir nossa exposição a pessoas diferentes de nós mesmos, podemos ajudar a desafiar nossos próprios vieses inconscientes e aprender a apreciar a diversidade.

Em última análise, o viés inconsciente é um fenômeno complexo e multifacetado que pode ter efeitos prejudiciais em muitas áreas da vida. No entanto, ao nos tornarmos mais conscientes de nossos próprios vieses e ao promover a diversidade e a inclusão em nossas vidas, podemos trabalhar para minimizar esses efeitos e construir um mundo mais justo e igualitário para todos.

Como reconhecer os vieses inconscientes que temos? 

Já foram identificados mais de 100 tipos de vieses inconscientes, porém cinco foram destacados  aqui, exatamente por eles  serem bem recorrentes na forma que a gente avalia  e interage com as outras pessoas. Não há um viés mais comum, pois diferentes pessoas podem ter diferentes tipos de vieses, dependendo de suas experiências de vida, cultura, ambiente social e outros fatores. Conheça-os aqui:

  1. Viés de confirmação: tendência a buscar ou interpretar informações de maneira a confirmar nossas crenças preexistentes e ignorar informações que contradizem essas crenças. Sabe o velho ditado que diz: O pior cego é aquele que não quer enxergar?  Ou quando dizemos ¨Nosso santo não bateu¨?  Tendemos  a gostar e acreditar no que e em quem mais gostamos, ou valorizamos, e a buscar nessas pessoas ou no contexto social a confirmações para nossas crenças.  
  2. Viés de atribuição: tendência a atribuir causas diferentes para comportamentos semelhantes, dependendo da identidade ou grupo de pertença da pessoa. Por exemplo, quando justificamos e ¨damos desconto¨ para um comportamento de uma pessoa, por afinidade com ela, mas o mesmo comportamento é criticado por nós, se visto em outra pessoa. 
  3. Viés de disponibilidade: tendência a dar mais importância a eventos ou informações que são mais facilmente lembrados ou acessíveis na memória, em detrimento de outros eventos ou informações. Este viés nos diz que informações mais fáceis de serem lembradas têm maior peso na hora de fazermos escolhas.  Aqui podemos dar exemplos de situações onde fazemos investimentos tradicionais, por exemplo, em situações onde nos sentimos mais seguros, desprezando por vezes  dados e informações que não conhecemos ou às quais não estamos familiarizados.  
  4. Viés de representatividade: tendência a fazer julgamentos ou inferências com base em estereótipos ou representações preconcebidas, em vez de informações objetivas e relevantes. É como se, se considerássemos todas as pessoas com determinado traço, pertencentes a um único e mesmo grupo. Por exemplo, tem a ver com generalizações que fazemos sobre a etnia e a sexualidade das pessoas, achando que todas são iguais. 
  5. O efeito de grupo que é o quinto tipo de viés que apresentamos,  pois ele explica a nossa tendência a  seguir o comportamento de um grupo em que a gente  está inserido ou com o qual nos identificamos, porque a gente não quer se desviar do padrão vigente.  Nós queremos ser aceitos em grupos (outro comportamento que vem das Savanas), e sentir que fazemos parte deles.  Assumir comportamentos de grupo, portanto, apesar de inconsciente, também é natural. 

É importante reconhecer que, pelo fato de todos nós termos vieses inconscientes, e que a conscientização desses vieses é o primeiro passo para minimizá-los, e assim podermos tomar conscientemente decisões mais justas e imparciais. Assim, podemos todos, através do autoconhecimento, melhorar o nosso mundo e o mundo à nossa volta. Que tal pensar a respeito? 

Referência do texto:  Ariely, Dan –  Previsivelmente Irracional: As forças invisíveis que nos levam a tomar decisões erradas – Editora Sextante. 

COmpartilhe esse post